quarta-feira, 2 de março de 2011

MÃOS QUE NÃO DAIS...

Mais próximo da utopia que do sonho Ernesto Guevara dizia que nenhum homem à face da Terra podia sentir-se livre enquanto houvesse um outro oprimido.
Na mesma linha de pensamento, aquele que tem mais do que precisa não pode sentir-se bem se há um que pouco ou nada tem.
Há os “sem abrigo” por vontade própria e há aqueles para quem a vida foi pior do que madrasta e nada têm porque ela, a vida, se perdeu, em alguns casos noutros continentes, sob o mesmo sol mas não sob o mesmo calor.
Passamos e olhamos para o outro lado talvez com receio de reconhecer aquele rosto, aqueles olhos porque o olhar já não é o mesmo. E seguimos sem ter mesmo coragem de contar “Sabes? Vi “fulano” como “sem abrigo” quando fui a Mafra, a Alcobaça”, sei lá…E calamos. E aquele que já se sentou na nossa carteira de escola, à nossa mesa, na mesma sala, no refeitório, no café, lá está, ainda.
Depois há os que têm abrigo material mas não têm vida própria, digna, porque ela lhes torceu os caminhos, os empurrou para junto de estranhas gentes e perderam o contacto com aqueles que seus companheiros foram durante, talvez não muitos, mas alguns anos. Deixaram de se ver, não se procuraram, preferiram-quem sabe? Até pensar que já não estavam entre nós. È mais cómodo! Isso de sermos irmãos é uma “treta”! Somo-lo enquanto “”, enquanto “interessa”.Não importa qual é o interesse mas ele existe.
     Perguntarão: - “Mas para e por quê toda esta conversa?”
Para vos dizer da revolta que sinto perante a indiferença, a frivolidade, a desumanidade que vejo à minha volta. Não sou melhor ou pior do que vós mas, estas situações perturbam-me o sono, assaltam-me à luz do dia e causam-me frustração por não poder fazer mais psíquica e materialmente.
E, ó trágica ironia, quando penso ter encontrado a “tábua” a que me agarro neste imenso mar de egoísmo e de “umbigo-dependência” constato que a mesquinhez, o “diz-se”, a inveja, a intriga, o ciúme, a calúnia gratuita, a má vontade, o “deixa andar”, a “solidariedade de café”, corroeram a tábua que eu supunha sólida, firme, pintada de esperança. A corrida ao protagonismo, os jogos de bastidores, as quesílias dispensáveis, a falta de diálogo olhos nos olhos, o oportunismo social prevaleceram em detrimento do bom senso, da justiça, da caridade, da generosidade, da solidariedade. Esqueceram o “outro”. Dividiram ao invés de unir; alimentaram a desconfiança em vez de a destruírem! Afinal, a quem serve o divisionismo? Quem lucra com ele, seja qual for a forma? A quem aproveita esta ribalta assente em arames e iluminada por falsa luz de amizade?
     Pois é! E voltamos ao caso da AAPAL.
É a essa associação que me refiro, a tal “tábua” a que me agarrei e não só eu, estou certa. Acreditei que podia ajudar e ser ajudada mas…Vejo, sinto grupos ativos na divisão; noto futilidade em vez de trabalho; “servir-se” em vez de “servir”. Já não somos irmãos? O que mudou? Em mim? Nada! Em alguns de vós? Não sei! Será que voltaram ao “eu” e esqueceram o “ele”? Voltaram ao “eu-este” e esqueceram o “outro” como sucedeu no “passado” que todos queremos esquecer?
Não é a democracia que anula esses tabus; é a nossa cabeça que tem de mudar isso, se é que em algum momento lá esteve. Perdoem se estou a ser injusta. Só escrevo o que sinto e partilho convosco.
Não somos todos iguais nem no nascimento nem na morte e muito menos na vida. Quando muito…semelhantes. Mas podemos irmanar-nos sempre que e dentro do possível. Os amigos são a família que escolhemos! Não nos escondamos! Não nos calemos! Falemos quando e onde é devido e deixemo-nos de “seguidismo” errado.
         Para mal da comunidade escolar que foi no Lobito nos idos anteriores ao Abril de setenta e quatro, um pouco dividida por razões que todos conhecemos e só interessa não esquecer para não repetir o erro, agora, quando mais premente se torna cultivar a união, a entreajuda, o espírito solidário, parece estar a querer germinar a semente da erva daninha que é o “divisionismo” porque “eu sou eu e tu és tu” quando queremos ouvir dizer “todos, somos nós”. Será que deixámos de falar a mesma Língua? Que não sabemos defender os nossos pontos de vista cara a cara, olhos nos olhos e os pés assentes na verdade?
Eu não vou por aí! Não vão por aí! Não vamos por aí! Não é esse o caminho!
Entendam-se!
 
                                                                       Por que esperais?

Sem comentários:

Enviar um comentário