domingo, 26 de dezembro de 2010

O ENSINO E O QUOTIDIANO

Permito-me tecer algumas considerações sobre um tema tão importante quanto polémico em todas as sociedades, pela relevância de que se rodeia no quotidiano das pessoas. Refiro-me especificamente ao ensino, assunto sempre tão actual.
Embora lenta a evolução dos conhecimentos em épocas recuadas, há conhecimento de diversas civilizações que se foram desenvolvendo em diversas zonas do globo, em particular no sul da Europa, Ásia Menor e Egipto, mais conhecidas, mas também no Oriente e América do Sul, estas apenas conhecidas a partir do século XVI, mercê das campanhas de descobrimentos marítimos levados a cabo especialmente por Portugal e Espanha.
Pouco se sabe de algumas delas, sendo que a mais relevante terá sido a de algumas escolas gregas, em particular as de Platão e Aristóteles.  
Se é verdade que interessa em especial o incremento que aquelas escolas trouxeram ao conhecimento da época, não deixa de ter importância os métodos de ensino que eram utilizados, já que constituem em grande parte o garante da sua difusão pela sociedade, e concomitantemente um mais rápido aproveitamento dos conhecimentos ministrados por parte daquela.
É claro que não se pode dissociar o método de ensino com o contexto socioeconómico pois que se condicionam mutuamente, e não é este o espaço mais adequado para uma análise das grandes civilizações antigas, nem tão pouco de épocas embora mais recentes condicionadas a uma orientação fortemente religiosa, em que o ensino era orientado exclusivamente pela igreja romana, com todas as limitações conhecidas.
Com o advento do Renascimento vários vultos de começaram a destacar nos diversos ramos do conhecimento, criando as suas próprias correntes, começando a proliferar as universidades por toda a Europa, embora de início sem qualquer carácter de especialização.
A partir do século XX o ensino conheceu finalmente uma tremenda difusão por toda a sociedade, e começou a ser tema de debate alargado, já que a liberalização das ideias permitiu finalmente a abrangência das diversas camadas sociais, agora todas elas beneficiadas pelo acesso à escola.
Não sendo de qualquer modo um estudioso do tema, fui-me no entanto interessando pelo assunto, a partir do momento em que comecei a leccionar.
Devo confessar que o meu início da minha curta carreira de docente envolveu um misto de oportunidade, que não de oportunismo, e o despertar para a carreira durante o serviço militar. Assim, tendo sido chamado a leccionar algumas matérias da minha especialidade ainda na vida militar, nasceu em mim um interesse que até aí nunca me ocorrera vir a despertar. E assim decidi concorrer à carreira docente, que coincidiu com um período de total derrocada de todas as estruturas, a que o ensino não escapou.
Passando rapidamente de uma época em que eram correntes os maus tratos por parte de alguns professores habituados a um sistema de disciplina rígida e ao cumprimento de programas e calendários rigidamente traçados, para um pré o pós-revolução com todas as convulsões que tal época sofreu e provocou, muitas e rápidas têm sido as mudanças de rumo dadas ao ensino nas últimas seis décadas da minha vivência desde as carteiras da 1ª classe, ao liceu, à Universidade no Continente e Angola, Institutos brasileiros, diversos cursos profissionais como discente e docente, continuando nos dias de hoje numa Universidade Sénior, tendo tomado contacto com os mais variados métodos.
Não tem este escrito a veleidade de estar a dar dicas sobre o rumo a ser dado a tão relevante matéria, muitas serão as opiniões melhor ou pior fundamentadas, mais científicas ou mais políticas.
Penso que é no entanto urgente, sob risco de se não conseguir a viragem que se impõe, que seja feito um estudo profundo, transversal a toda a sociedade, em que sejam participantes alunos, professores, pais, e forças políticas, de forma a diminuir drasticamente os casos de deficiente formação escolar que se podem constatar no dia a  dia, culminando com o degradante espectáculo de noticiários e concursos televisivos em que os senhores licenciados e quantas vezes professores, dão largas a uma tremenda falta de cultura geral e muitas vezes específica da sua área. 
É tempo de se deixar de olhar para as estatísticas e evitar que se caia definitivamente no degradante quotidiano, tão corrente noutros países, de um qualquer diploma não ter qualquer valor como garante de qualificação em termos de conhecimento, e de terminar com os tão frequentes casos de jovens frustrados nas suas vidas pessoais, pelo facto de não terem acesso a uma vida profissional de acordo com as aspirações que os estudos que frequentaram lhes terão proporcionado.


Professor no LALA

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