quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

OS ERROS PAGAM-SE...

Os filósofos, na generalidade – fundamentados e apoiados na racionalidade na metafísica de Aristóteles -, confessam-se, em conformidade comigo, cépticos com respeito aos acontecimentos do acaso e da coincidência ocasionais. Para mim, as enfermidades (disfunções orgânicas e outros males somáticos e psicasténicos, tal como todo o tipo de maleitas) têm origem na genética, nas malformações congénitas e, sem dúvida alguma, nos comportamentos inadequados, ou impróprios, excessivos no decurso da vida ou, seja, ao longo dos anos. A finalidade da medicina não é curar mas, sim, prevenir e evitar as doenças.

Deveria ser, particularmente, profiláctica, em vez de terapêutica. Eu tenho consciência de que negligenciei, menosprezei e maltratei os meus olhos; por isso, o génio do mal castigou-me, privando-me do mais precioso bem que tive – a visão – para o desempenho, com a máxima eficácia, da minha cada dia mais difícil porém nobilíssima profissão e para continuar a realizar-me, transmitindo os conhecimentos, mais úteis e indispensáveis, a inúmeros jovens e menos jovens, preparando-os para um futuro estável, risonho e, confiantemente, compensador. Não conseguiu, todavia, confiscar-me, afectar-me nem, minimamente, beliscar-me as faculdades mentais e intelectuais. A fim de mostrar e provar a sua omnipotência, Esculápio (lat). Asclépio (gr), o deus da medicina – para contrariar, travar e desapoderar aquele malvado e acintoso espírito - predestinou-me, em boa hora, um reputado oftalmologista que, com superior competência, distinto e incontestável profissionalismo e exemplares zelo e dedicação, me mantêm uma visãozinha periférica que, ainda, permite movimentar-me, com menor ou maior dificuldade, dentro e fora de casa. Durante mais de três anos, não li nem escrevi, uma única palavra. Mesmo assim, continuei a ditar, de cor, os meus artigos (espelhando a actualidade), com igual regularidade.

Graças aos mais elevados sentimento, sensibilidade, humanidade e generosa influência – por necessidade urgente, inimpediante e inadiável – do meu oftalmologista e à boa, receptível, benéfica e filantrópica vontade duma médica de subvisão, frequentei um tirocínio prático, de leitura e escrita, no aparelho (leitor de caracteres), orientado por uma muito digna, bem preparada, prestimosa e abnegada técnica de subvisão que ministrou com inquestionável mestria e proveitosa pedagogia.

Suponho que a ablepsia, que atacou a minha vista, foi, porventura, provocada pelo profundo respeito que, sempre, consagrei aos meus alunos, comprometendo-me, a mim próprio, a entregar-lhes os “pontos”, corrigidos, na aula seguinte. Orgulho-me por ter cumprido, escrupulosa e infalivelmente, essa obrigação.

Para consegui-lo, passei, incontáveis noites, sem me deitar, a emendá-los. Estou a sofrer as consequências; contudo, não me arrependo; constantemente, pus a minha função acima de tudo.

Devido ao avanço da tecnologia, adquiri um utensílio – análogo àquele em que treinei – no qual manuscrevo e leio, com mais ou menos dificuldade, demorando horas a executar, e ver, um trabalho correspondente ao que, antes, gastava a fazer, apenas, nuns minutos. Com a chegada deste instrumento, entrou, também, a felicidade, quase absoluta nesta casa. Cuidem-se. Lembrem-se de que as coisas não acontecem, só, aos outros… Pensem bem e aproveitem este conselho, emanado do meu âmago.
 (Professor na EICL)

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